Caminhava eu por um campo verde escuro enquanto o sol escurecia meu andar. Minha sombra pesava sobre meus ombros a memória de um ontem recente.
 
Perdi meu medalhão no meio do caminho.
 
Entre a subida da serra e o vale onde estou houve um tropeço. Uma gota de sangue caiu debaixo do olho, de debaixo do olho, quando um galho ricocheteou no meu rosto. Uma lágrima caiu em minha mão enquanto meu talismã vermelho caia no chão.
 
Uma pedra. Uma pedra e meu peito se rasgou com a quebra do meu medalhão.
 
A queda antecipada, a dor já sofrida, o esgarçamento das linhas de vida comum e o apagar das luzes tênues que me orientavam nesta noite sem luar que se tornou minha vida-arrastar.
 
Agora no vale um espaço resta, entre meu peito e minha pele, onde antes se ocupava o pingente, meu meio pólo meio poço que como muleta apoiava meu andar.
 
Agora no vale as noites são finalmente escurass e não vejo nada além de uma lua morta que invisível pulsa sangue vomitando dor em nacos de enxofre miasmátivo, carregando a memória de todos os cadáveres que caíram ao longo do nosso caminho, todos os restos de Ser que se desprenderam dos corpos, todos os fantasmas que exorcizamos, todas as ilusões que se revelaram e todo meu pesar de outrora.
 
Este fel luar pinga na minha já gasta sombra que atenta esmaga meus ombros e estrangula minhas veias e garganta tentando espremer o que resta de vida de uma casca já morta que se arrasta/subsiste na inércia de uma pulsão que já não existe mais.
 
Só me resta a verborragia esquizofrênica e descoordenada de uma mente que já não consegue mais se articular. Só me restam os fragmentos de pensamentos que não me lembro de onde vieram, mas que se recusam a me abandonar/ajudar ao se agarrar às feridas secas e rasgos de minh’alma.
 
E todas as metáforas se desfazem e perdem seus sentidos e nada que escrevo ou faço ameniza o vazio escuro que cega meus olhos.

Eduardo Pereira
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