Fragmentos do passado se precipitam
Momentos e relances remetem ao acabado
Ressuscitando o que morreu mas não
Ele levanta e repousa ao meu lado
 
Me abraça e me e engolfa, me toma
Seu cheiro de sangue seco e dor
Me paralisa, tudo vem a tona
O morto-vivo, o morto-amor
 
Como uma lepra na minha alma
Meu amor putrefato subsiste
Doença crônica, ferida que não sara
Se insinuando sobre o que existe
 
Basta um pouco de sangue-dor
Ele acorda e começa a corroer
Um vampiro parasita, passado amor
Que nega a se deixar morrer
 
Meu amor-doença
Meu morrer eterno
Mesmo finda a crença
De um possível retorno
 
Nunca seria tarde para se libertar, mas a janela já fechou e fiquei preso em mim. Preso à hemorragia que restou quando o amor se(u) rasgou de/em mim. A ferida tomou vida e suga a vida de mim. O morto tomou vida e toma a vida de mim. Meu amor morreu e se tornou câncer, então vivo se faz em metástase quando um relance da vida me lembra de ti. E em metástase toma conta do meu corpo. Entorpece minha mente, abafa meus sentidos e esmaga minha existência já rarefeita. E em cada ataque um pouco menos resta, pois a vida já está cansada de lutar em vão e os braços já não mais levantam em riste quando a injustiça bate na minha porta. Se quanto maior, maior a queda, o que fazer quando a queda é livre e nunca sinto o impacto do chão? Se o caminhar tornou-se um cair em espiral e o viver tombou do abismo do ser, eu não sobro, sou sobra. Sobra de um tempo que se apaga da memória, pois a cada dia que passa o passado se torna simulacro e a memória se esvai, só me restando o sentimento da perda e a dor da despedida, mas sem a recordação do calor que me deixou. Sem o conforto de uma lembrança passada, a dor parece perder significado, o que lhe confere ainda mais razão de ser, fazendo com que do nada mais nada venha e a ferida se retroalimente, perpetuando um ciclo vicioso de dor, sofrimento e morte. Já não sinto mais o porquê da dor, por isso estou fadado a repeti-la pelo resto da vida, já que o esquecimento é o espaço da reminiscência e me tornei o vazio onde o nada prospera.

Eduardo Pereira
© Todos os direitos reservados