Um som se divisa da turba de ruídos silenciosos
Que ouço aqui do quarto:
Sim, creio ser a filha mais capciosa, pérfida e graciosa do medo:
Quem poderia ela ser, hein, minha amiga?
A angústia. Sim, ela mesma, vindo corrosiva
Sob a forma de febre terçã, querida.
Receio esta acústica:
A presença ensurdecedora do mutismo
Me faz divagar. E quando divago, costumo ir
A uma zona da mente em que não sou mais auto-controle;
Ao contrário. Lá, é como se eu fosse um corpo autômato,
Inanimado, sendo levado por impetuosa correnteza.
Por que lá eu me sinto assim, querida?
Porque lá eu me contemplo como um náufrago dos mais caros
Sonhos. Tresmalhado do cálido regaço-esteio da certeza,
Aderno, afundo e finalmente feneço sobre o áspero solo da
Racional indigência.
Tenho medo do não ser perene:
Não sei se suporto a premissa de ficar venalmente confinado
Dentro da seara estéril do vácuo.
Eu poderia ser um discípulo da agnose
Eu poderia perigrinar até a cidade de Juazeiro do Norte
Eu poderia ser um rebelde crédulo
Eu poderia ser um tenor evangélico
Eu poderia ser a mente que mais entende o Talmude
Eu poderia ser um apelo de paz de Maomé ao mundo islâmico
Eu poderia ser o desmantelar da nação hindú na Índia cibernética Do século vinte e tantos
Eu poderia fazer com que as pessoas enxergassem a face lídima De Sidarta Gautama
Ah, eu poderia morrer ateu no viés boreal da Irlanda.
Na verdade, eu sou aquele que segue ávido o som que esgarça
A fortaleza protetora da ópera do silêncio que me incide sobre
O ente no exato agora!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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