O Matuto e o Magistrado

 


 

O MATUTO E O MAGISTRADO

 
Sou um brasileiro

 
Filho de Maria e João

 
Nascido no interior

 
Criado no sertão

 
 

 
 

 
-‘’Não sinhô

 
Seu doutor

 
Não tenho estudo não.

 
 

 
 

 
Desde cedo tive que trabalhar

 
Pra ganhar o pão

 
Além disso, tenho muitos irmãos,

 
Ainda pequeno calejei minha mãos,

 
Seja na foice, enxada ou facão.

 
 

 
 

 
Meu pai coitado

 
Nunca passou

 
De um empregado, de um criador de gado.

 
 

 
 

 
De um futuro

 
Ele sempre falou

 
De eu ser um doutor

 
Assim como o senhor

 
Dizem que também

 
Era o sonho de meu avô

 
 

 
Sofri muito

 
Quando saí de lá

 
Não gosto nem de pensar

 
As vacas, as galinhas...

 
O bolo de fubá

 
 

 
Eu gostava de caçar, pescar.

 
O gado campear

 
Não tinha tempo,

 
Nem de coisa ruim pensar

 
  

 
-Seu doutor

 
Minha mãe que é rezadeira,

 
Nunca falou besteira

 
Muito me avisou

 
Dizendo que na cidade

 
As pessoas são cheias de maldade

 
E que eu tomasse cuidado

 
Pra não pegar essas qualidades

 
 

 
Não matei,

 
Não roubei,

 
E nunca quis fazer algo errado,

 
Fui pego como suspeito,

 
E estava mal acompanhado

 
 

 
Sendo preto, pobre,

 
E pelo preconceito

 
Fui encarcerado

 
 

 
 

 
Agora não tenho outra solução

 
Senão esperar o tal julgamento

 
E torcer pela absolvição

 
Pois dependo da justiça

 
E estou na prisão.

 
 

 
Não culpo o destino

 
Nem peço piedade

 
Culpado sou,

 
Por ter um coração sem maldade,

 
E trocar meu Paraíso,

 
Por um sonho de sucesso

 
Na grande cidade.

 
 

 
 

 
 

 
 

 
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