12/01/2009                                                                                                                                                                                                     16:43

De todos os atrasos que a vida traz um me fez pensar...

Certa vez me vi linda como nunca estive antes (e olha que tenho muitos espelhos espalhados pela cidade) esperando por você. Na verdade eu sabia que talvez não chegasse, pois seus atrasos sempre te roubam de mim. Eu olhava para o reflexo que meu corpo projetava no vidro e não entendia por que esperava por você, ainda... Muitos olhares (curiosos, impiedosos, sarcásticos) me levaram junto e alguns deles teriam pagodo qualquer preço (e que preço se paga pela felicidade?), pois não quero mais que isso: ser feliz! Eu não questionava o provável atraso e a demora que me consumia; eu queria saber (ou entender) por que eu ainda estava ali e por que sempre estive... Mas desta vez eu não fiquei triste, nem cortei meus pulsos. Arranquei meus sapatos de cristal e andei lento e sincronizado. Não queria chegar a lugar nenhum, mas não podia parar. O vento trazia lembranças, recordações e... e você sorria para mim como um menino que sorri diante de seu bem mais precioso. Eu olhava os pedaços de cartas apaixonadas que rolavam no chão... pedaços de amor que corriam (assim como eu) para lugar nenhum. Um dia eu perdi muitas destas cartas (ou todas?)... não posso mentir! Não perdi, pois cartas de amor não se perdem. Eu rasguei e joguei ao vento e hoje elas se atiram na minha direção, me culpam e me condenam... Quando cheguei no "fim" liguei para você. Dei-te um doce e preciso adeus. Você não argumentou! A névoa se abriu para que eu pudesse me eternizar e traçar uma nova rota. A garrafa de vinho que jamais ousarei comprar (novamente) me faz companhia e um disco antigo aquece minha alma e eu... ah eu danço a dança dos "loucos" tão leve como as plumas da Carmen. Um telefone arrependido não para de ligar, mas um telefone livre não pode mais atender e se render aos avanços da era moderna (a famosa desculpa: falta de tempo). Esqueço uma tolice e logo me perco em outra... "dois quilos a menos seriam perfeitos entre minhas mãos e eu faria qualquer coisa para não tê-los em mim, mas minha pele surreal eu não trocaria por nada."

Sem mais ou menos não adormeço. Eu não perderia esse momento por nada.

Carmen Locatelli
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