ILUSÃO

20/01/2009                                                                                                                                                                                               23:09

Quantos "ontem" precisamos viver para entender nosso amanhã?

Ontem eu conheci um homem de olhos tristes e eles não podem me ver... Sua alma vazia nada lhe oferece além de solidão. Por longos instantes eu quis te roubar pra mim, mas seu medo me afastou de leve e eu pude  sentí-lo na sua respiração, na sua pele, no tremor de seus lábios.Sozinho e carente o frio te consola e a noite te acolhe, te protege... eu me pergunto: onde esteve quando o amor de uma mulher chegou? Onde esteve quando louca ela te fez sentir o som do universo? Onde sua própria alma esteve... talvez! Por que desistiu desta mulher, por que deixou o sonho de seus filhos pra trás, por quê? O mundo tem te engolido em boas doses, mas você não sente; o fracasso se alojou em você e estes poucos lugares onde você passa não terão mais sua presença. Ontem eu desejei um homem triste de olhos lindos! De mãos vazias e conquistas poucas; de sonhos perdidos e escolhas bobas, mas eu não precisava de nada mais... Eu me aproximei e me iludi na sua essência; você não me cheira, não sente meu calor, não aperta o meu braço... sou invisível demais para você, humana demais, perfeita demais. Hoje eu conheci um homem apaixonado, uma história de amor, um conto de fadas... e ela nem sabe disso! Hoje eu invejei uma mulher, eu matei a perfeição, eu amei uma deusa... O ontem se foi e deixou poucas lembranças... talvez nada que eu devesse armazenar. O jornal de amanhã noticiará: "Um homem “de olhos vazios” deixou este mundo (isso não seria nada demais a não ser pelo fato dele ter sonhado todas as noites e amado todos os dias um rosto que jamais viu e que tampouco amou por ser um belo rosto) e o mais curioso foi ele ter contado os 26 andares (numero de anos dos quais ele foi apaixonado por uma mulher que só a voz conhecia) que gentilmente arrastou-se para alcancá-los e minutos depois se jogou para o nunca mais". Na pagina ao lado uma mulher perfeita é a única suspeita, mas ela não sabe. Sua fotografia de olhos grandes expressa um sentimento intraduzível, seu corpo insinuante desperta um desejo adormecido. Cidadãos de um lugar qualquer, vivendo sonhos quaisquer, amando coisa alguma lêem e balançam suas tolas cabeças sem entender (ou tentar entender) a dor da dor... Isso talvez seja humano demais para eles ou anornal. Eu sentirei saudades deste homem, mas sei das escolhas que precisei fazer para desistir. Seus olhos, cegos olhos, tristes olhos... jamais outros me olharão daquele jeito... jamais!


 

 


 
 

Carmen Locatelli
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