a rubra lua acende o pavio da noite
a fera se arma pronta pra buscar
cada fluido doce de quem se descuide
e se deixe amostra para a boca voraz
o arauto vai descendo a rua
mensageiro da desordem desarruma telhas
vai ao encalço de quem te procura
numa caçada que não tem mais trilha
arma os sentidos, prepara e parte
prossegue na ação, garras afiadas
escorre a baba na perseguição
fareja e busca, escuta e procura
enxerga e caça no seu ritual
parte dominadora, feroz a me cercar
rodeia-me insana, insaciável ordena
que para sua toca eu vá,
diana caçadora
aprisiona-me entre tuas coisas
me alimenta e mata, tortura e afaga
me conduz e ataca, como quer e faz
ataca e pega, prova e devora
rapta minha seiva, marca e condena
a procurar a morte
novamente em suas presas
outra dose forte o corpo lhe pede
uma nova dose dessa morte quente

Essa é de uma de uma série poesias que descrevem uma fase de minha vida já fazendo meu curso de agronomia. Resolvi publicá-las agora, pois estou numa mudança de hábitos, de fase. É bom rever como começei e o quê me levou a escrever. Todas minha poesias estão com direitos autorais registrados, inclusive estas. Para quem gosta de ler o que escrevo perceberá, como sempre, implícito que não há nenhuma ficção no que escrevo. São reflexos do que passei e como reagi a isto. Interessante como podemos mudar, amadurecer, nos adaptar, renascer das cinzas.

Cruz das Almas, no curso de agronomia, 1998

André Ferreira
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