Uma feliz coincidência

O mel derramado por todo o corpo, um saborear ininterrupto, fazia daquele momento um eterno e derradeiro instante, mas o que poderia imaginar aquela, moça, que teve seu vestido vermelho, de cor tão forte quanto seu baton; quase tirado no primeiro beijo.
Sorria, um sorriso puro, porém sensual, seus olhos fitavam o moço ali abraçado a sua cintura, cabelos negros, com uma espécie de creme, um gel, mesmo após os afagos, ficaram intactos.
Parecia coisa de cinema, dois jovens, prontos para se amarem, o coração acelerado, a respiração ofegante, a ponto de perderem o fôlego.
Uma luz que vinha de fora, um toque na porta do quarto, desfez, todo aquele momento sublime.
Olhando pela fresta da porta, via se um homem, trajando um sobretudo escuro, com um saco amassado em uma das mãos, podia se ver a boca de uma garrafa.
Devia ser algum bêbado que por ali passava, ficaram quietos os passos se foram, se foram, se foram, sumindo no silêncio da noite.
De repente o jovem casal voltou a se beijar, e cada vez mais se acariciavam se apertavam, sentindo um no outro o coração bater forte.
Era noite de lua, as estrelas brilhavam o céu, de repente um vento frio passou pelo corpo daquela moça, sentiu imediatamente  uma forte vontade de ver o que tinha lá em baixo, olhar pela janela do quarto, era um pequeno prédio de hotel, dois andares, e logo foi até a janela ficou estarrecida pelo que viu, uma luz forte, clareava toda a rua.
Mas foi pra cima que olhou e percebeu, o quanto aquela noite era especial, tinha ali do lado de seu namorado, naquele quarto de um hotel qualquer, uma estrela  de luz forte, que lhe dizia algo a seus olhos, falava sem ela entender realmente o que dizia aquele brilho.
Voltara, tão encantada para os braços de seu homem, que não percebera, o adiantado da hora, já passava da meia noite.
Nossa tenho que ir, meu pai, vai me matar e assim, naquela noite, num quarto qualquer, uma noite linda, uma luz mostrou aquela moça, que ainda não era a hora, não ali, naquele lugar, tinha que ser em um lugar especial, e assim foi…

mas nossa história continua…

Correndo pra não se atrasar ainda mais, percebe aquele mesmo homem caminhando na mesma direção.
Passa correndo por ele, e sem querer esbarra em seu braço, que deixa cair a garrafa de vinho que levava dentro do saco e ao quebrá-la, percebe ela que aquele homem, com ar de bêbado, mal arrumado, era simplesmente seu primeiro e único amor, seu primeiro namorado, ali mesmo, ajudando o pobre homem que caíra pra tentar pegar a garrafa, ela percebera e finalmente entendera, que algo tinha naquela luz e assim amparando-o chegam até sua casa que já estava bem próxima.
Seu pai já tinha se recolhido, era viúvo;  entram e ela tenta não fazer qualquer barulho, poderia ser fatal; leva o até seu quarto, e deixa o dormir em sua cama.
Enquanto o olha, com olhos daquela menina que crescera e achava que jamais encontraria de novo seu grande amor.
Partira ainda jovem, com sua família para outro estado, e após juntar um bom dinheiro, volta para tentar achar sua grande amada.
Ali naquele quarto, no silencio da noite sentiu de novo o calor em seu corpo, porque ali estava em sua frente, aquele que sonhou por toda vida.
Embriagado sim, mas ela cuidaria para que ele ficasse bem e assim passou aquela noite ao lado do homem e hoje é seu marido.
Bebera  para tentar esquecer a única mulher que o tempo fizera esconder. Às vezes ele prega-nos peças mas nunca é tarde para amar e assim vivem felizes, e hoje passados alguns anos, ele descreve suas memórias, agradecido que foi pelo tempo trazer de volta naquela noite linda de lua, céu cheio de estrelas e apenas uma brilhou mais que as outras, anunciando ali a chegada o retorno ao seu grande e único amor.
Ambos souberam mais tarde, que naquela noite, o que ocorrera.
Ele descobriu o endereço de sua amada e levava um litro de vinho para a comemoração, porém ao chegar na esquina, encontra outro homem saindo com ela, ali mesmo cabisbaixo, sem saber o que fazer tenta segui-los, suas pernas não atendiam por estar demasiadamente assustado, nervoso, por tudo que vira.
Seguiu o jovem casal e após o restaurante, ele do outro lado da calçada sem muita esperança, abre aquela garrafa de vinho, que levara para alegrar aquela casa, afinal se passaram doze longos anos.
Era nos vários goles que tentava afogar as lágrimas, o peito apertado; de uma comemoração que nunca acontecera.
Aquela garrafa se transforma em seu único amparo,  transtornado, tenta em vão bater na porta uma , duas vezes, mas acaba desistindo. e volta pelo mesmo caminho. mas nessa altura já meio embriagado.
Quando de repente alguém, esbarra o derruba era assim o fim de nossa história, mas o inicio de uma vida cheia de amor e histórias pra contar.
Roberto F Storti
Publicado no Recanto das Letras em 08/01/2008
Código do texto: T808901

Publicado no Recanto das Letras em 08/01/2008

Roberto Fernandes Storti
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