Dor Alheia
Pilar Casagrande

Que seja intensa a tua dor imaginária,
Que lateje em todas as fendas da tua alma,
Que te de a cor lívida dos flagelados e encha
O teu cérebro de escuridão, como uma noite total.

Que ela seja o horror do teu suplício,
A prova da tua resistência,
O heroísmo do teu gesto alucinante,
Ainda, assim, não saberás avaliar a dor alheia.

Que a tua dor imaginária
Seja a expressão do irremediável,
Seja a dormência da tua sensibilidade
Seja a humilhação atroz de todos os teus desejos,
Ainda, assim, não saberás avaliar a dor alheia.

Quando, porém, sentires o que os outros já sentiram,
Aquela dor viva, aquela dor real, aquela que santifica,
A dor em que se bebe, trêmulo, gota a gota,
A essência humana da derrota e do aniquilamento,
Aí, sim, meu irmão, saberá avaliar a dor alheia.

Depois de uma reunião em que todos diziam imaginar a dor
que eu sentia pela perda de meu primogenito (23 anos).

Rio Claro/ SP

PILAR CASAGRANDE
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