Romantica
I
Pode um homem amar
a mulher que invade
seus sonhos lhe tirando
o sono até a aurora
e com ela vai embora
levando sua sanidade,
lhe prometendo voltar
E por eras infinitas
de esperanças solitárias
sua alma morre na relva
só vive carne na selva
só restou sua pesia
todas póstumas escritas
nas noites que ela não veio
II
Só tu tens a pele branca
sensível ao olhar profano
e o cabelo em tranças
em seu dorso, minhas crenças
cobertas pelo pano
do meu santo pudor
que tua carne arranca
Passa as tardes em flor
exalando um perfume
que paira no crepúsculo
e sobre a alta montanha
eu sento em seu cume
respirando o ar escuro
paranóico de amor
Renego meu Pai-Celeste
Apago a marca santa
Para me tornar liberto
Mas tudo se torna trevas
Confundo o leste e o oeste
rogo sem voz na garganta
mas pra ti não sou o certo
III
Olhe bem os teus versos
de rimas inexpressivas
de palavras sem vida
e para mim dedicados
volte para ti e viva
para não sofrer lhe peço
não me chamai de querida
Pois nunca poderia te amar
teu espírito tão pobre
e tua carne tão podre
ainda se fosse nobre
mas é servo do Senhor
que nem possui imagens
e te largou com tua dor
E sozinho você chora
com os lobos uivando
no escuro tenebroso
jaz agora sozinho
leviatã é bondoso
não o deixará sofrendo
com a morte voce dormirá
IV
Um mar espiritual
dos vultos das almas
agora resplandesce
e sobre meu olhar cresce
o nirvana em chamas
tristeza, solidão, pânico
os sentimentos mortais
A sombra que me persegue
é a sombra de lúcifer
não me perdoe Deus
reneguei o reino seu
pelo amor da mulher
tudo meu já foi entregue
só restou a alma a poesia
Carlos Dias
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