No provisório encontro contigo, moça,
que mansa e sem compromisso me apareceu
(como o deslizar das nuvens no céu, e das estrelas),
com pequenina voz e o sorriso discreto,
quase forçado, um sorrir delicado de gueixa,

volta sutil em mim a emoção antiga
de uma quantidade pouco conhecida,
ou desconhecida, fora
do plano comum do meu dia-a-dia -

quantidade
que relutantemente te indefine,
não nega nem afirma,
nem se vangloria ou se queixa
(e que me modifica, transforma,
corrompe e delicia).

Mulher... Contudo, no meu coração abalado
assumes a imagem mágica de criança, de menina,
quando te entregas, iluminada e repentina,
porém tão raras vezes! -
menina indecisa, mas não desamparada;
fugidia garota, que concede,
sim, mas não deixa...

(Sabes?
Teu mapa desvenda p'ra mim regiões semi-ocultas,
de selvagens e intocadas florestas,
teu mapa me comove e maravilha...)

***
Conversamos... Tentas me explicar
com minúcias tua vida. Entretanto,
fico vencido por tua beleza,
a mente fica perdida,
me afundo no doce encanto,
e não entendo bem teu significado...

Na incerteza que me invade,
nos negaceios das tuas falas,
o mundo p'ra mim fica parado,
remoto e sem ação,

e então nada mais me importa,
além de ser querido por ti.

Vê então, menina noturna,
porque te não descubro:
é que agora palavras são demais, e contigo
meu idioma é sempre mudo de letras,
e pleno de emoção...

Vê, que o gesto meu antigo
de te tomar nos braços diz tudo,
e que mais aprendo no tremer
do canto do teu lábio
do que em mil frases,

tu, que me desequilibras
com esse olhar sonhador e curioso...

(Fica sabendo, menina,
que mais me instiga o modo dengoso
com que dizes teus nãos quase talvez -
por sussurros e gemidos, quando falas
co'as pontas dos dedos,
se te peço coisas de loucura,
coisas proibidas...)

Mas olho p'ra lua, e sinto que a vida é bela,
e enfim flui vitoriosa novamente...

Sabes? Sou bruxo, sou vidente,
e pra mim és uma flor,
uma rosa amarela...

Sou o observador intransparente da mágica paisagem,
e por isso sempre repouso meus olhos no teu rosto.
Quero mais te conhecer, minha mulher-menina,
correr teus labirintos, penetrar
teus mais profundos segredos, tua raiz.

Mas desanimo por te traduzir tão mal,
pela tentativa infeliz
e fracassada de te saber mais,
por te estudar assim em vão.

Apenas te comparo, e me desminto;
perco a paz,
revejo e repasso tudo,
e enfim me percebo,
me percebo até demais.

E silencio, entre orgulhoso e humilde,
quando olhas p'ra lua no celeste anfiteatro
(palco invertido, pleno de coadjuvantes estrelas)...

Deixo de lado minhas falas, as belas
palavras que sairiam confusas da minha boca,
e te falo co'o coração,
e me apego à última tentativa de te entender,
à única certeza absoluta minha
em nosso cenário e encenação:

Te amo muito... E me és essencial, menina,
assim como a lua, no escuro debruçada,
o é p'ros loucos e p'ros apaixonados. Como a lua,
que nos espreita e ilumina
quando à noitinha passeamos na rua,
desrumados, distraídos, sem direção...

Meus olhos sempre em ti,
minha mão na tua,
menina-moça feita de discreta luz
e contida emoção.

Primeira poesia pra mulher amada - acho que descrevi uma pálida, palidíssima, idéia do que ela representa para mim...

Niterói, alguns anos atrás - um dia iluminado para mim...