Se queres saber a história da minha terra...
Pergunte ao rio...
Por onde correram homens atrás de caucho, castanha, diamante e ouro.
Testemunhou ascensão de poucos, perigo e morte pra tantos.
Deslizou sobre si canoa, barcos e balsa.
Foi limite dos territórios originários...
Levou alegrias, mágoas e embriaguez.
Retirou a lama e suor das andanças.
Refrescou e alimentou os filhos das florestas e das águas e ensinou os seus a se realizarem sob seu leito.
Se queres aprofundar pergunte a floresta rasgada pela estrada, sangrada por grandes antas amarelas...
Trouxe pó, desassossego e doenças.
Máquinas, a barragem, caminhões e a pata do boi.
A tiracolo a violência, derrubadas, madeireiros, garimpeiros e pistoleiros.
Questione o que veio com os trilhos e seus rastros de miséria.
Os dragões comedores de terra.
A "emburacar" a floresta e a sujar os rios...
A "elamiar" as vidas perdidas na ribanceira...
Se quiseres saber quem ganhou...
Perguntes as casarões da velha...
A canção do cantador...
Ao beradeiro e a solidão das Canoas...
Aos emparedados no encontro...
Se não achar resposta...
Deixe a alma, incomodada com a realidade ignorada,
do poeta...
Poetizar....
© Todos os direitos reservados