" E onde trabalha sem cessar o esquecimento dos desgostos amorosos."

" E onde trabalha sem cessar o esquecimento dos desgostos amorosos."

“ (...) Não longe dali está o jardim reservado onde crescem, como flores desconhecidas, os sonos tão diferentes uns dos outros, o sono do estramônio, o sono do cânhamo- da- índia, os múltiplos extratos do éter, o sono da beladona, do ópio, da valeriana, flores que permanecem cerradas até o dia em que o desconhecido predestinado vier tocá-las, fazer com que se abram, e, durante longas horas, vertam o aroma de seus sonhos particulares em uma criatura maravilhada e surpresa. No fundo do jardim fica o convento de janelas abertas onde se ouve repetir as lições aprendidas antes de dormir e que só serão sabidas ao despertar; enquanto que, presságio deste, faz ressoar o seu tique-taque, esse despertador interno que a nossa preocupação regulou tão bem que, quando nossa caseira vier dizer-nos “ são sete horas!”, já nos achará prontos. Das paredes escuras desse quarto que se abre sobre os sonhos, e onde trabalha sem cessar o esquecimento dos desgostos amorosos."

Marcel Proust - Em Busca do Tempo Perdido

Eloisa Alves
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