Sem licença pedir,
empurrando o que viu pela frente,
chegou o frio,
afirmando cumprir ordens,
dizendo estar tomando o que lhe é de direito.

Cabisbaixo,
o outono afastou-se gritando aos quatro cantos:
Não respeita mais o calendário,
quem pensa ele que é,
dono do tempo?

A tarde sai assustada e
já longe,
encoberta por espessas nuvens acinzentadas
alerta os passarinhos:
Que retornem mais cedo para seus ninhos.

A noite, aproveitando a brecha que o frio abriu,
desce sobre a terra,
usando seu negro véu
salpicado de pouquíssimas estrelas.
E prepara para receber o inverno,
que todo empinado,
dono de si,
exige um trono à sua altura para sentar-se,
onde do alto de sua soberba
reinará por mais de três meses
até que a primavera com seu doce e floral sorriso,
o convença a viajar para outras bandas,
conhecer novos lugares.

Enquanto isso,
libertos,
casacos de todos os tamanhos e cores,
saem de seus guarda-roupas felizes,
zombando uns dos outros
por não servirem nos seus donos
já crescidos.

O amor,
aproveitando-se do diz que me disse
saiu todo trajado de vermelho
e pousou nos corações descuidados
que de propósito deixaram suas portas escancaradas.

Os enamorados encheram-se de coragem
roubando beijos das meninas moças no portão
provando por A mais B,
numa equação não ensinada na escola,
que o encontro dos lábios os umedece
livrando-os das rachaduras no frio.

Elas,
fingindo acreditar,
entregam-se às delícias
do primeiro amor
que talvez "seja eterno,
enquanto dure."

Maria Isabel Sartorio Santos
© Todos os direitos reservados