Nuvens sobre o olhar,
Um silêncio interno quer dizer algo.
Uma miopia de alma tentar ver,
Desvendar o que não é claro.
Um vidro embaçado
Entre o real e seu significado.
A voz distante sussurra versos,
E estes timidamente
São esculpidos em letras
Que moldam lentamente palavras.
Como que sombra de si,
Como uma parte opaca e oculta.
Existem lábios fechados que nada dizem,
Mas um coração a pulsar manso,
Como que em fuga do peito que o abriga.
Nó na garganta,
Uma tristeza indevida,
Marcas invisíveis de velhas feridas.
Mas eis que algo consola,
Algo produz musical oração.
Eis que não vê, apenas sente,
E por instante o corpo descansa,
Deita-se sobre o solo,
Para receber uma chuva fina
Que é toque de seda sobre a epiderme.
Existe um frescor de água limpa,
Como que batismo solitário de si.
Como em erguer-se das próprias cinzas.
E então não arder em fogo,
Mas apenas ser delicada chama de uma vela.
E ali se concentra o olhar,
E este vê o mundo,
O mundo que vai distanciado,
Até que as gotas de chuva,
Se mesclem em lágrimas de luz,
Pois que são as estrelas que choram.
Pois é o céu que abre os braços.
E então tudo se aquieta,
E boca murmura uma prece,
Que sorri em alegre poesia.
Gilberto Brandão Marcon
24/01/2021
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