Ahriman e o Abismo

Vai escurecendo... A visão fecha.
Somente o grande nada do último suspiro
E além disso, um vazio, um descendente giro
De não sentir e nem ser mais sentido em nenhuma brecha...

Sentado e taciturno no tédio da eternidade,
Eis Ahriman, bocejando, num imortal marasmo.
É o esquecimento. A que todos estamos sujeitos. Generalismo pasmo
Por que todos passaremos, indignificados pela realidade.

O abismo, em contrapartida, reverbera e se excita.
Mais um número para suas fileiras. Pura matemática.
E as almas vão se conglomerando de forma sistemática
Na agonia de não ser e de que o olvido é fórmula infinita...

Mas o não sentir mais nada evita a insistente dor.
Ahriman dá um risinho maligno, mas sensato,
Vendo o fim preocupado da humanidade, o que é um fato,
E suas ânsias de se eternizarem crendo piamente no amor...

Mas tudo continua e nossas lembranças vão se esvaindo.
As juras de sentimentos eternos são pisadas pelo tempo
E por mais que eu me indigne e em cismas, me contemplo,
É assim que é e tudo continua sem nós, que no inferno continuamos caindo.

Risos de escárnio por darmos tanta importância dolorosa
A tudo o que sentimos e fazemos. A paz está no nenhum, magnetismo
O qual atrai as polêmicas de que não temos significado nem aqui, nem no abismo...
E Ahriman volteia, olhando a todos com gargalhada desdenhosa...