Existo, logo penso!

Existo, logo penso!

 

Estranha é a vida,

Talvez não para aqueles que apenas a vivam,

Mas para quem nasce com a benção ou maldição,

De tentar entendê-la, não se trata erudição,

Não se trata de buscar títulos do mundo,

É antes a própria razão de existir.

Se diria destino, se diria vontade,

Mas ao fundo,

Tudo parece se resumir

a uma curiosidade quase infantil.

Uma aventura de menino

Que tem ilusão de desvendar segredos.

Ser que ora é jovem adolescente extemporâneo

Talvez potenciado pela ação dos hormônios.

Uma explicação que parece não se bastar,

A suposta rebelião parece ser mais profunda.

É uma espécie de perda da inocência,

Que faz com o homem já amadurecido,

Se veja perdido num mundo de fantasias,

Mas incomodado pela realidade do tempo vivido.

Não se amadurece do dia para a noite,

A maturidade é árvore que cresce aos poucos,

Mostra suas cores na juventude,

Mas são tons ainda por demais intensos.

Que o tempo parece descorar.

Durante longo período passamos a construir,

O que haverá de se descontruir aos poucos

Se assim tivermos a dádiva

De acompanhar o nosso próprio ocaso.

E nisto não há ironia,

Pois que o tempo esvazia o ter

Numa necessidade quase compulsória de ser.

Muitos querem enganar o ser com o ter.

Mas o ser por alguma razão é como que dúbio embrião,

Espinho que está presente no botão de flor da vida.

Vão-se tantos que muito amamos,

Que falecem em corpo,

Mas que estão vivos na memória.

Estão tão próximos

Quanto a uma distância intransponível.

Insistem para nossa consolação existirem sem estar.

Os descobrimos através das portas da saudade.

Ah, como maldita pode ser a saudade,

Se não soubermos a dádiva que é.

Nosso primeiro grito e nosso último suspiro

Nos faz igual perante o mundo.

Os cartórios da vida nos iludem com seus papeis,

As vezes não damos conta

Que além da certidão de nascimento,

Existirá uma que dia será de óbito

Que não estaremos aqui para ver.

Então o ter se finda, resta apenas o ser.

E então eis que quem tenta entender,

Passa parte de sua aventura solitária,

A se perguntar: o que sou?

O humano ao desenvolver a ciência

Se hiper estima como sujeito do universo.

Pensa-se senhor absoluto do verbo,

Quanta tolice,

E não se ofenda quem assim o possa se sentir,

Pois tolos haveremos todos nós de sermos.

Mesmo ignoremos a nossa própria tolice.  

Bem pouco sabemos,

Apenas viajamos na esperança

Que comunga com a fé que é dúvida

Que acompanha a cada nova resposta.

Passageiros de uma bola planetária

Esfera tão minúscula em meio ao Todo.

É assim, que em meio a vastidão

Do céu de uma noite estrelada,

Ficamos perdidos entre as interrogações,

E aturdidos com o coração palpitante em exclamações.

Viver é tão claro e translúcido quanto oculto.

E então, alguns alienados aos próprios sentidos, rirão,

E eu, sem querer ofender, direi que estes com o corpo irão.

E então, eis que no ter havemos que encontrar o tal ser?

Longe de opiniões, longe de delongas, apenas existo.

E por existir consigo interrogar

Por hábito quase que instintivo de minha natureza.

Divago na frase de um filosofo: ‘penso, logo existo’.

E petulante eu digo, ‘êxito por isto penso’.

E pensar apenas reconhece este existir.

 

11/09/2022

 

Gilberto Brandão Marcon