Preciso ser bem vindo quando chego

Ouvir seu riso, sem nem ter acabado a história

O seu fundo musical, sua pergunta simplória

Ou minha mãe lhe chamando de “Nêgo”.

 

Me vencer no vídeo game, me ajudar na escola

Me contar sobre os homens, a terra e o espaço

Me fazer chorar de rir com o seu eu palhaço

Me abençoar quando estou indo embora

 

Preciso te ver feliz, arrumado pra festa,

Ler o que conversou com seu diário,

Separar seus remédios do armário,

Conversar, driblando o silêncio que pesa

 

Luto, uma triste palavra-batalha

O fim: pena em eterna vigília

Sou forte porque em mim ainda brilha

Mas ressentido, sob o véu de sua mortalha.

Desabafo. Ao meu pai.
Guilherme dos Anjos Nascimento
© Todos os direitos reservados