A dúvida do leão.
Um jovem leão, insatisfeito com a vida, pergunta ao mais velho, chefe de seu grupo:
— Senhor leão, do alto de sua sabedoria e experiência, poderia me dizer qual é o sentido da vida? Em outras palavras, o que deve fazer um jovem leão para, motivar-se e acrescentar alguma boa razão para manter esta difícil e extenuante vida de animal selvagem?
O velho leão, olhando seu interlocutor, após um largo e sonolento bocejo, disse em voz pausada:
— Meu jovem, esta é uma pergunta que nunca fiz, nem a mim mesmo, mas fazendo-a, posso dizer o seguinte:
— Primeiramente devo afirmar que concordo com você quando diz que a vida dos animais selvagens é difícil. É a mais pura verdade. A vida dos animais selvagem é, por natureza, difícil e enfadonha. Veja bem: de modo geral, todos nós temos predadores. Os únicos animais que aparentemente não os tem somos nós, os leões e os humanos. Os demais, todos se comem uns aos outros. O maior sempre come o menor. E tudo se transforma em rotina. Acordam todas as manhãs, uns, pensando em sua segurança e procurando esconder-se de seus predadores; outros, pensando justo o contrário, ou seja, espreitando para ver quem será a presa de hoje. Sucintamente, portanto, a vida dos animais selvagens é um correr e correr o dia inteiro, ou fugindo do predador, ou perseguindo seu almoço. Em tese, sem dúvidas, você está certo em querer encontrar motivo mais elevado para justificar sua vida. Com tristeza lhe digo: não há. O que há é o que temos. É cansativo, repetitivo, mas é a realidade.
— Quanto à segunda parte de sua pergunta, ou seja, qual deve ser a motivação de um leão, para viver e ser feliz nas savanas, a resposta também não é fácil.
Eu, por exemplo, já estou velho e em pouco serei expulso do bando por algum jovem atrevido, cheio de energia e testosterona, que virá me desafiar. Vou lutar, é claro, mas vou perder. Após, minha vida como leão macho, pai de várias ninhadas e dono de várias fêmeas, terá terminado. Então vou me perguntar: qual foi o sentido de minha vida durante todos esses anos? A resposta é uma só: não há nenhum sentido. Caçar, tornar-se forte, ser corajoso, dar proteção ao bando, comer muito e dormir numa boa sombra, é muito pouco para fazer algum sentido.
— Posso te garantir que a vida de um animal selvagem é sem graça, cheia de perigos e com lutas fratricidas que não levam a lugar algum, exceto a essa conhecida savana seca, palmilhada metro a metro.
Portanto, lhe digo, não há um sentido único e geral para todos. Cada um deve criar um sentido próprio para sua vida. Assim, quem sabe, a existência seja menos inquietante e a vida mais justa e agradável. E isso serve para os humanos, também.
Porto Alegre, 20 de dezembro de 2019.
José Carlos de oliveira.
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