VOLTEIO
Logo que nasci puseram-me num caminho!
Deram-me mapas!
Deram-me direções!
Deram-me bússolas, lugares onde comer, lugares onde dormir e polícias para me proteger!
Deram-me deuses a quem rezar e ajoelhar!
Depois disseram-me:
- “Vai. Caminha direito na vida”.
Lá fui eu, por estrada, a primeira à minha frente!
Segui em frente,
A estrada tinha curvas, esquinas, subidas e descidas,
ainda só idas, ainda sem vindas!
Caminhei sem saber da estrada seu fim;
Se terminava num deserto, numa floresta ou num jardim!
A cada horizonte outro vinha!
Comecei a ter companhias, mas parecia, como eu,
Que ninguém sabia para onde ia,
Talvez por a Terra ser redonda e andar sempre às voltas!
Talvez, por ser assim, é que eu,
depois de já muito ter caminhado, -a torto e a direito-
e na vida já muitas voltas ter dado,
sem sair do sítio, sentindo-me sitiado, é que continuo a voltear-me, de qualquer jeito, quase já sem tino,
não sabendo mais de qual estrada, de qual direção, de qual destino e sentido!
Sim, puseram-me na vida! Mandaram-me caminhar direito!
Deram-me caminhos, para caminhar, mas não me disseram quando e onde parar!
Serei eu a decidir ou algo ou alguém me fará cair?
Me continuo a voltear no Universo, entre poesia das estrelas,
tentando da vida fazer um poema ou, pelo menos, um verso,
enquanto de minha estrada não sei seu fim; se num deserto,
se numa floresta ou jardim!
Sem saber se meu poema termina assim, com este verso,
ficando no ar, a voltear, nunca direito!
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Autor: Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque
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