"Se não for verdadeiro
Não faça” – disse ele.
Enquanto a garota caia de joelhos.
E isso é fácil de compreender:
Neste mundo sujo
Só os ratos se dão bem!
Ao contrário do que se sabe
Eles não povoam o covil das pulgas
Ou vielas ensangüentadas.
Freqüentam salões nobres
Estampando muros de grandes cidades.
Sobrevivem devorando paixões,
E bebem gim ao sol poente.
Sem mágoa, sem culpa, sem peso.
Com seu olhar sagaz {mas com voracidade}
Parecem flertar com o universo.
Não são homens
Mas ratos.
E somente ratos reconhecem os ratos.
Entre o jazz e o blues
Apagam cigarros em ventres
Que jamais conheceram qualquer impureza.
Tateando seu próprio fronte
tentando auscultar
seus corações acelerados,
Mas nada disso passa
De uma forma de matar o tempo
E debochar das feridas inevitáveis.
Pois não são homens
São ratos.
E seu hálito eloqüente
Cheira como o espaço
Entre um cigarro e um copo de café.
Eles não choram, ou riem
Mas cantam e escrevem.
Estão sempre de soslaio
Espiando o bêbado
que por seu descuido
derruba um pouco de compaixão,
feito bituca num copo de cerveja.
Quando chega a noite
E todas as luas se escondem
É possível ouvi-los caminhar
Entre casas, escolas e boates
Prostitutas e crianças
Roendo almas
Engolindo promessas
E exalando a indiferença.
Os tempos estão podres
E os ratos governam o mundo.
Cada palavra, cada verdade
Cada sensatez
Queima impiedosamente em seus lábios.
E todo homem, toda mulher ou puta,
Embriagam-se em sua
Dança suave e fatal.
Há um pouco de ratos
Nos homens,
Mas nada de homens nos ratos.
E desde que o tempo
se chama por este nome

 
Os ratos devoram o mundo. 

Vinicius Souza
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