Quase

Quase fui,
mas a pressa de avançar,
encarar o desconhecido,
cravar os pés desprotegidos
em terras que os poderiam tragar,
fez-me sentir medo...
E recuar.


Quase deixei
envolver-me a emoção
quando batendo no cais
mares e barcos tardios
lançaram suas velas,
redes para me sequestrar.
E eu, resgatando-me,
tive que ficar.


Quase segui
a caravana que passou...
Cigana expatriada,
sem destino, em abandono,
entregue à liberdade
de ser como o vento,
de não calar a verdade,
de ser quem não sou...
Coragem para prosseguir
  foi o que faltou.


Quase desisti...
Faltava aquela palavra
para enfeitar o verso
e ela zombava, fugia,
não queria ser rima,
fazer parte da poesia,
iluminar meu universo.
 Num esforço triunfante,
força que desconhecia,
trouxe para o poema
a palavra que lhe pertencia.




Carmen Lúcia