Ontem deitei-me com a ideia de construir um poema,
e juntar as palavras, as rimas e versos
e fazer como o meu mecânico
que se deita a pensar como encaixar as peças
na engrenagem do meu carro avariado
para dar ao motor o ritmo desejado.
Pela manhã, ainda ensonado
ouço o pio dos pássaros no meu jardim
e enquanto espero que a neblina levante,
procuro a chave inglesa
que me há-de permitir encaixar as palavras
que continuam soltas na minha cabeça
e se recusam dar ritmo ao poema.
Talvez esteja como o meu carro avariado,
ou talvez
tenha que mudar de profissão.
No meu jardim os pios repetem-se,
agora, numa melodia alegre e colorida
e anunciam um dia airoso de sol quente e límpido,
e o meu poema continua frio
como se quisesse saltar janela fora
abraçar o sol que os pássaros alegremente anunciam.
Talvez tenha mesmo que mudar de profissão.
Como não sei cantar como os pássaros do meu jardim,
nem a infusão de grãos de café arábico que tomei
me estimulam a veia poética,
o melhor a fazer, é utilizar o meu computador
e somar o custo das peças a encaixar no meu carro avariado.
É que a vida vai cara e há que fazer contas …
e como está previsto um dia quente de sol radiante,
talvez seja melhor agarrar na trouxa,
meter-me no metro
e abalar até à praia.
Que se lixe o poema.
Há mais poemas por detrás das marés!
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