Apalpo o tempo.

Navego no sol.

Tosto-me na chuva.

Falo mentiras

Que são verdades.

Gargalho no ódio.

Pranteio na alegria.

Estou só na multidão.

Ando sentado.

Durmo em pé.

Falo verdades

Que são mentiras…

 

Sou morte na vida.

Sou amigo do inimigo.

Sou santo pecador.

Escrevo sem tinta.

Leio páginas em branco.

Jogo cartas sem baralho.

Nado na areia.

Caminho na água.

Sou dinheiro sem valor.

Estou limpo na sujeira.

Falo grego em português.

Converso em silêncio.

Estudo sem livros.

 

Sou nada em tudo.

Estou mudo na fala.

Sou surdo com audição.

Cego com boa visão.

Dentro da falsidade

Sou mais que honesto.

Somo onde há subtração.

Divido onde há produto.

Fumo cigarro apagado.

Sou atleta sem jogar.

Confidente sem confessor.

Sou rio sem águas.

Sou água sem mar.

Sou o começo do fim

E o fim dos objetivos.

 

Estou belo dentro do feio.

Horrível dentro da beleza.

Sou dia em plena noite

E madrugada em pleno dia.

Sou sombra do meu vulto

E oração das pornografias.

 

Sou tudo isso e muito mais…

Contudo não sou delinquente,

Sou gente, sou vida…

Sou poeta!

 

 

DE Ivan de Oliveira Melo

Ivan de Oliveira Melo
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