Ando que ando.
Canso que canso.
Tropeço.
Dou a mão direita
À esquerda.
Levanto-me.
Cambaleio.
Aprumo o corpo,
Sigo o destino.
Lá adiante.
Nova queda.
Sinto-me mais fraco,
Mesmo assim
Repito o ritual.
Estou de pé outra vez,
Mas o caminho é longo…
Desvendo árvores.
Descanso nas sombras.
Estou sujo e arranhado.
Suave brisa.
Meu rosto é acariciado
Pelo frescor do vento.
Ganho ânimo.
Vou em frente.
Tenho sede.
Abundante suor
Pinta meu corpo.
É o íntimo chorando
E pedindo arrego.
Não esmoreço.
Sou levado
Pela força de vontade.
Debaixo do sol escaldante
Minha caminhada
Torna-se um sacrifício.
A sede me devora.
A fadiga me arruína.
Perco as forças.
Desabo no solo seco.
Desmaio.
Longas horas sem sentidos.
Desperto ao anoitecer.
Os pássaros em busca
Do agasalho e eu
À procura do meu destino.
Tento levantar-me.
Estou só. Ninguém me vê…
Sem entender como,
Consigo aprumar-me.
Meio trôpego.
Dou alguns passos.
Chego a uma praça.
Está desolada como eu.
Descubro um banco.
Ali me deito. Desfaleço…
Desperto dia claro.
O sol desponta.
A passarada voa. Canta.
Dou-lhes bom dia.
Aos poucos o sol esquenta.
Imagino-me na mesma
Desilusão do dia anterior.
Sede. Fome. Exaustão!
Ando que ando.
Canso que canso.
Estou sem forças.
Preciso mendigar…
A quem? Tudo vazio!
Taperas trancafiadas.
Viva alma não aparece.
A solidão é companheira.
A solidão é meu arrimo.
A solidão é meu prêmio…
Dados alguns passos,
Vejo uma porta aberta.
Uma senhora sentada
A olhar em derredor.
Será que espera alguém?
Bato. Ela olha para mim
Bem dentro dos meus olhos.
Reconhece-me. Levanta-se.
Vem ao meu encontro.
Abraça-me.
Beija-me o rosto ferido.
Aperta minhas mãos…
Algum tempo depois,
Fala-me, sussurrando.
“Ainda bem, querido.
Já não suportava mais
Tanta saudade.
Finalmente você chegou.
Aqui no astral tudo é diferente.
Não há fome, nem sede.”
Eu estava morto... E não sabia!
DE Ivan de Oliveira Melo
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