MINHA INFÂNCIA NA ROÇA


Com 05 anos de idade
Já ajudava pai na roça
Catando os pés de mato
Eu digo sem fazer troça
Pois, era uma vida boa
Que eu levava na bossa!
 
De manhã logo cedinho
Mamãe me alimentava
Com rapadura e cuscuz
E o papai acompanhava
Ouvindo aquelas histórias
Que ele sempre contava:
 
Histórias de cangaceiros,
De caça e de pescaria,
De inverno bom à beça
Que naquele tempo havia
E, assim, a gente andava
Com muita paz e alegria!
 
Chegando lá no roçado
Começava a trabalhar:
Papai com a sua enxada
Sem parar de conversar,
Mas era boa a conversa
E eu gostava de escutar.
 
Contava com precisão
Histórias e historietas,
E, eu a todas escutava,
Mais pareciam retretas
Que eu retinha na mente
Aquelas lindas facetas!
 
Mas, o trabalho fluía
Sem nenhuma restrição;
Papai na frente prosava
E eu indo atrás, então,
Limpava os pés de planta
Com o auxílio da mão.
 
Quando parava um pouco
Para a gente descansar,
Papai falava para mim:
- ‘Tá’ pertinho de chegar
Sua mãe com a comida
Que é pra gente almoçar.
 
Dito e feito, mãe chegava
Logo após algum tempinho
Trazendo num caldeirão
Feijão, cuscuz e toicinho,
E, a gente se lambuzava,
Mas se papava tudinho.
 
Logo após aquele almoço
Descansava-se na sombra
De uma árvore frondosa,
Deitados numa alfombra,
Para depois recomeçar,
Pois não existia a lombra.
 
Efeito só dos cigarros
De fumo bruto de palha
Que papai fumava muito,
Mas isso não vinha à balha
Porque ele ia na frente
E eu atrás não via a falha!
 
Ele me pedia sempre:
Conta um ‘verso’ para mim
Aquele que aprendeu
De cor quando ouviu, sim,
E eu mostrava pra ele
Um que narrava assim:
 
“Quando eu era pequenino,
Que tomava banho no poço,
Eu fazia curralinhos
E botava boi de osso,
Agora estou me lembrando
Do tempo que já fui moço”.
 
Trabalhava-se de tarde,
Mas muito pouco porque
O enfado se aproximava
E meu papai tinha que ver
Que lá no dia seguinte
Era um outro amanhecer
 
 Assim se ia para casa
Pensando no outro dia
Que começava de novo
Com a mesma alegria:
Eu adorava o meu pai
Com aquela harmonia!
 
Assim se passaram anos
Eu ajudando o meu pai,
A gente tinha um convívio
Que quando se tem não trai
E aquele que é muito caro
Nunca da memória sai.
 
Até os meus 16 anos
Eu morei com os meus pais,
Não me lamento de nada,
Só a lembrança me traz
Aqueles momentos bons
Que não voltarão jamais.
 
Depois daquela invernada
A safra se aproximava;
A terra era muito boa,
Plantando-se, tudo dava,
E, quando chegava a ‘seca’,
Tinha fartura que sobrava.
 
A lavoura era colhida
Com toda a integridade;
Vivi com a minha família
Toda a minha mocidade,
Pois, na roça não existia
A lei da menoridade.
 
Autor: José Rosendo
(28/01/16)