Talvez o mundo seja para muitos um lugar feio e perigoso,

cheio de armadilhas e tocaias,

talvez muito medo em certos corações caiba,

pontes que se quebram, acidentes desastrosos...

 

Não sei o que é,

mas ando a reparar em coisas que acho bonitas,

ou então simplesmente são partes da vida

que às vezes estão do nosso lado e nem reparamos,

surgem diante dos nossos olhos sem nenhum plano...

 

Ontem, quando fui ao Mercado,

vi, recostada na coluna central,

alguém que eu nunca tinha reparado,

de uma beleza quase medieval,

cabelos longos caídos sobre os ombros,

quase uma madona que Da Vinci teria pintado,

uma deusa que se erguia como se no meio de escombros,

e eu nunca tinha reparado...

 

Ao lado dela um homem doava seus pertences

como se fosse um asceta que não mais queria os entes

ver ao seu lado, uma heresia no meio de tantos pecados,

ao riso de outros surgia como demoníaco demente,

ou então à loucura um dos seus subservientes...

 

Por acaso, ao passar diante de um sujo espelho,

vi a mim; lentamente me virei, me via da cabeça aos joelhos,

supus ser alguém que conheço desde que vim do berço,

reparei que envelheci um pouco mais do que supunha,

mãos estendidas, ombros largos, limpas unhas,

gostei de mim e, por um instante, me senti amado,

logo eu, que reparo em tudo, em mim não tinha reparado...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Prieto Moreno
© Todos os direitos reservados