Sobre os teus passos

As folhas vão caindo lentamente
Como fluídos flocos de neve,
Inundando o chão por completo,
Misturando o avermelhado de suas folhas
Ao marrom da terra espessa.
Elas vão cobrindo as pegadas
Que você deixou marcadas
No momento do adeus.
Penso que eu poderia cair sobre elas,
Me esparramar traquinamente,
Fazer um anjo de folhas secas.
Tolice!
Mas a verdadeira tolice
É que eu realmente caio sobre elas,
Não para fazer um anjo,
Mas para me sentir amparada pelas tuas pegadas,
Como se os teus passos pudessem sustentar  o meu corpo.
Pensando nisso... choro!
As lágrimas vão brotando não sei de onde,
Inundando as minhas faces como cascatas.
Minha alma vai encharcando, meu peito dilatando,
Até que me encolho sobre as folhas secas.
Sinto que vou perdendo o fôlego lentamente,
Soluço, tapo a boca com as mãos,
Nada adianta,
Os soluços escapam pelas frestas dos meus dedos,
E eu vou me encolhendo ainda mais sobre os teus passos.
Por que eles estão indo?
Por que não podem ser passos de chegada?
Queria que eles estivessem no sentindo contrário,
Ao invés de indicarem a tua distância,
Mostrassem a tua aproximação.
O que estou fazendo?
Por que insisto em me enganar?
Fecho os olhos, sinto que vou me afogar,
Por favor, volte! Retorne! venha me salvar!
Parece que vou morrer
A cada momento que sinto menos a tua presença,
A cada instante que as folhas apagam os teus rastros.
Ouço uma voz me chamar, não quero ouvir ninguém,
Não quero existir para ninguém,
Deixem-me sufocar em minha própria dor,
Deixe-me morrer desiludida pelo amor,
Deixem-me esquecer o que é amar.
Mas a voz me chama novamente,
Meus olhos estão apertados,
Enquanto minhas mãos seguram o meu peito tresloucadamente,
No desespero de impedi-lo de rebentar.
A voz me chama novamente, mal consigo reconhecê-la,
Entre soluços peço que me deixe em paz.
Ouço então o barulho de folhas remexidas,
Sinto uma sensação aconchegante de calor,
Viro-me, meu rosto fica voltado para o céu,
Abro os olhos inchados e intensamente molhados,
Eles ficam turvos pela luz do sol.
Um rosto se interpõe dentre o meu campo de visão,
Mal consigo reconhecer quem é.
Então a voz, agora trêmula, indaga carinhosamente:
'- No momento do descontrole me disse para partir,
Que esse amor como estava não iria durar,
E tudo o que eu fiz foi simplesmente aceitar
Que a melhor opção seria realmente desistir.
Mas no meio do caminho, já alguns passos daqui,
Eu parei sem conseguir continuar.
E pensei, inundado pelas lembranças de nós dois,
O que seria de mim se eu não pudesse mais voltar.
Tive medo de nunca mais voltar a ti ver sorrir,
Até mesmo de te ver chorar.
Medo de você acordar sem que eu estivesse ao seu lado,
De não poder ter o teu  corpo trêmulo para abraçar.
Medo de mesmo sendo o errado de uma discussão,
Não ter mais a chance de me redimir,
De te ver timidamente me perdoar,
Fazer amor mesmo depois de discutir.
Então, mesmo que erremos,
Mesmo que tenhamos medo de continuar,
Não importando se somos os vilões ou os mocinhos,
Eu não irei mais desistir,
Para continuar ao seu lado eu irei lutar.
Olhe para mim! Veja! Sou eu!
Eu voltei como um louco para você,
Por descobrir que a única razão do meu estúpido viver
É te amar, meu amor,
É te amar! '
Eu escutava aquelas palavras ruborizada e atônita,
Enquanto as minhas lágrimas procuravam rebentar,
Mas antes que eu pudesse voltar a chorar,
Seus lábios sufocam o meu pranto.
Abraçados sobre as folhas secas,
Ainda sustentados pelos teus passos de adeus,
Nos beijávamos.
E eu sem dizer nada,
Me deixava amar por você,
Agora sabendo que os seus passos,
Eram  passos de chegada.
 

*-*Raiza*-*
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