Eu acordei. Despertei ainda de olhos fechados. O primeiro som que ouvi foi a respiração pesada e melodiosa do corpo que se pôs ao meu lado e permaneceu a noite toda. Sorri, meu lábio roçou um no outro algumas vezes antes de sussurrar "obrigada" para quem estivesse disposto a ouvir. 
Abri os olhos e girei lentamente na cama, fazendo um circulo nos lençois encardidos com estampa de hqs escrotos e violentos, coloquei o dedo indicador na boca e o passei da testa até o meio do peito do corpo que ainda dormia. Sorri, beijei sua testa após olhar e mergulhar na parede branca acima de sua cabeça me virei para a sacada, soltando um suspiro melancólico -ainda ouvia grilos entoando acasalamento ou jantar em família-, observei bem a vista enjoada ao meu redor, acendi um cigarro, demorei para tragar, e soltá-lo. Deixei queimar.
Não sei como ainda sinto o meu corpo, não sei porque a fatalidade da morte ou ossos quebrados ainda não me alcançou.

Ágani L.
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