Vai longe o tempo que os antigos respeitavam os preceitos e nessa lida tinha certa vez uma meninota por nome Mariinha que hoje contaria uns oitenta janeiros, conhecida por Nhá Maria Benta. Conta ela que num tinha dia que ela via os ovos que as galinhas botavam e os pegavam inda quentes para comê-los cozidos. E quando sua senhora reclamava, ela dizia não saber do paradeiro desses tais ovos.
_ Maria, Cadê os ovos que ponhavam inda hoje cedo?
_ Não sei senhora. Vai ver os gambá deu de aparecer antes..., esses bichos são devera danados!
E assim, os dias na roça iam se passando até que chegou os dia do destino cobrar esse atrevimento da menina Maria, faceira e esperta.
Não tardou de aparecer os primeiros filetes do poente lá pelas grimpas, na barra do dia e lá ia a meninota, de pé em pé, como se quisesse não deixar rastro. Saía bem na boquinha do clarear do sol, levantando-se de sua alcova, rompia o sono, ligeira, passava no rosto uma água na bica do monjolo e mesmo sem as precatas, ia marcando leve a terra chã.
Chegava sorrateira sem levar espanto pras galinha e mais carinhosa que um velho galo manhoso que rodia sua prenda, coçava a barriga das chocadeiras, num silêncio quase sonolento de vagarinho tirava os ovos, um a um....xiii.
A rabinha já estava com água da biquinha em cima da trempa: fogareiro que usava os peões no improviso das manhãs de caçada. A água a ponto de por o café moído. E vai ela cozer os ovinhos: frutos de sua aventura infantil, meninice matutina. No final, as cascas, depositava na hortinha atrás do chiqueiro, horta de chão fofo forrado de verduras e folhagens que cresciam robustas à custa dessa farra matreira.
Mas, chegou o dia em que, após esse ritual de caso pensado, mas não conseguiu dar o primeiro passo com três ovos naquele infausto dia, olhou para o chão e viu uma enorme cobra a voltear numa de suas pernas. A tinhosa ia aos poucos subindo como se quisesse disputar os ovos que agora tremia para seguram em uma das mãozinhas aflitas. Conseguiu, com muito custo, chegar à porta do paiol, dando alguns passinhos, curtos, quanto então soltou um grito agoniado:
_Nhá Zefa!!
Nunca mais a guria quis saber de ovo cozido.

Luciano Roriz - ALCAI
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