A VIDA É ASSIM
O dia, hoje, amanheceu bonito.  É domingo! Mas eu olhei para ele com cara feia. É a única que tenho!  Mas não feia de tristeza, não. Como você pensou. É feia por falta de beleza. O sol brilha como ouro, não se importa como isso e com luz e calor nos presenteia.  Ele é muito mais importante do que isso, e não se importa com cara feia, ele é de ouro. O vento que zunia na fresta  da  janela, com o canto da minha calopsita fazia coro. O vento se foi embora, o sol vai daqui algumas horas. O domingo passa, a noite vem, a gente dorme, sonha. Alguns sonham tranquilos,  chegam roncar. Eu nem sonho, pois não tenho sonho para sonhar. Dormir é preciso para se repor as energias perdidas, dizem os sábios da ciência. São energias deixadas pelo caminho, porque as baterias da vida não são carregadas, quando a gente caminha sozinho. Vêm domingos, vão domingos. A semana fica presa no meio. Nesse espaço de tempo a gente faz alguma coisa: trabalha, vai à cidade... Enfim, a gente se movimenta e chega a fazer alguma coisa para não deixar o tempo perdido.  Foi  assim, que cheguei  à idade que tenho , pertinho dos setenta. Há vontade de fazer mais, porém o corpo não aguenta.  Com isso,  a gente fica um tanto desiludido. Também, acho que de nada adianta o meu esforço, pois nunca serei reconhecido. Sei que quando   acabar o espetáculo da minha vida,  serei esquecido, sem nunca  haver sido aplaudido.  Antes da cortina se fechar, já estarei num esquife. E do meu lado, estarão pessoas com pressa para me enterrar.  Se houver recomendação religiosa, tem que ser rápida para não incomodar os presentes. O pastor ou padre ou representantes destes, pressa também têm. Até o Pai Nosso é reduzido e fica assim:  ... Senhor, livrai-nos do mal . E os demais dizem: Amém!  Sai o féretro, nem lembranças ficarão. O corpo inerte sai puxado num carro, uma tábua de madeira com algumas rodinhas, feito de qualquer maneira, porque no caixão, ninguém mais põe a mão. É assim, tudo acaba quando para o coração. Mas o sol vai continuar brilhando, pintando de ouro os domingos. Você vai ver, exceto quando chover. Autoria: Wenceslau da Cunha.
 

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