Connosco o areal     aos nosso pés
gravará os sinais que afeiçoarmos –
desprevenidos, vacilantes, ágeis,
correndo sem sabermos s’emudece
o frémito do sol que nos aquece
na sua vigilância que embriaga.
 
Ou, se quiseres, irreais florestas
terão nascido ou vigorado, à espera
de só comigo caminhares nelas –
apaixonados, tensos e famintos,
alheios a fadigas, a destinos,
despertos como broto em primavera.
 
E o mar    um mar incógnito e fraterno
com ninfas e tritões à superfície
acompanhando o nosso navegar.
Comigo: os dois, até ao fim da vida
por uma via só por nós sabida
e por um horizonte aonde fundearmos.
 
Segue-me pois. Areia, mar, florestas:
a tua pele arfando em minha pele
e as bocas devoradas a queimarem-se.
 
 
António Salvado

António Salvado
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