Dia, que hoje raias para aos poucos morrer, não és mais o mesmo dia
Que um dia raiou e contemplou aquilo que em meu coração nasceu,
Pois tudo muda, sempre, e o passado só permanece em salas de museu.
 
Noite, fria, vazia, de vulto longo e mãos sem cor, uma pergunta eu te faria:
Onde pousaste teu doce fascínio que tantas vezes me enterneceu?
Por que nos engana com o brilho da lua e das estrelas se tua cor é puro breu?
 
Passageiros somos todos, carregando sonhos, devaneios, enganos,
No trem do destino, que nos manda aprender ou vagar na solidão por anos,
Quando nos recusamos a ver, a florescer, a deixar o insensato anoitecer
Para que a vida não siga feito nau sem rumo e se refaça no amanhecer.
 
E em meio à jornada, quando sinto o suor da testa escorrer pelos cílios,
Lembro de teu corpo deitado, macio, alvo e iluminado como um campo de lírios,
E de teus seios doces, erguidos feito colinas sobre um vale ao entardecer.
Então eu sorrio feliz, sabendo que, em meu destino, pude um dia te conhecer.

 

HC
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