Tão me matano, nêga, num güento mais.
É surra braba, nêga, e dói dimais.
Os hômi bati, nêga, num tem nem dó.
É de porrête, nêga, morrê é mió.
Eu tava limpo, nêga, num tinha pó,
Mas não me ouvíro, nêga, batêro e só.
O sangue córri, nêga, empapa o chão.
Jogaro eu dentro, nêga, do camburão.
Tu não mi ôvi, nêga, nem ovirá,
Pois me mataro, nêga, no Guarujá.
Lá no barranco, nêga, meu corpo istá.
Tiro na nuca, nêga, pra liquidá.
Tô no terrêro, nêga, pra te avisá.
O prêto-véio, nêga, vêi me ajudá.
Mando um aviso, nêga: tu ti mandá,
Qui os hômi aí já chêga, pra ti acabá.
Leva os mininu, nêga, protu lugá.
Some no mundo, nêga, pra si salvá.
Pulícia mata, nêga. os pobri que há.
Mai os rico sujo, nêga, só faiz robá.
Ficam impuni, nêga, tem pra pagá,
Advogado bão, nêga, pra si livrá.
Nóis qui é pobre, nêga, vai si lenhá.
Surra e tiro, nêga, qui é pra matá.
E qualqué canto, nêga, pra disová.

Aidõnou

Marco Antonio Cardoso
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