FLORES DE MARGARIDAS

 
 
O poeta apropria-se de sensações e, amante, cria mundos de purezas, sonha sonhos que, talvez e porventura, jamais deveria, ou mesmo poderia, em verdade, tê-los.
O poeta apropria-se, talvez ainda, e indevidamente – tal qual o faz o colecionador de borboletas –, das belezas da vida; mas aprisionando-as em palavras que não logram, jamais, possuir as asas às quais - tão ingenuamente! – pretenderam.
Sim, há um Drama dos Poetas – qual o drama do lodo da terra! –, que em si mantém a própria incoerência, do pequeno ser que tanto sente, e que faz brotar – tão temerário! – a flor de um traiçoeiro Lótus – inconseqüente! –, a forjar miragens que atraem incautas borboletas.
Pobres borboletas! – que não se apercebem que, acercando-se de nefando Lótus, terão de presenciar a visão do poeta vendo-se, a si mesmo, ali, a arrastar-se, qual lagarta ainda, pelo chão de uma lodosa terra - mas ó! Espera!
Mas por que não poderiam as borboletas ser, sim, elas mesmas, as colecionadoras – de poetas?!
Sim, minha querida, venha e me diga:
 - Dá-me tua mão, querido poeta-menino, e venha, venha brotar em asas de borboletas, venha deixar de ser o lodo da terra, germinando paralisados e cansados poemas, para que, já agora, deixando o chão tão pequeno, possas voar livre, qual libertada poesia, já alto voando e assim aladas flores germinando, e sempre e sempre e sempre ainda!
 
 
 
 
 

 

MARCELO GOMES JORGE FERES
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