OCIOSIDADE

 
 
Ociosidade,
Vício de gastar inutilmente o tempo,
És o grilhão que pesado prende o belo que poderia ser!
Labirinto impudente que engana em pérfidas tentativas
de vão iniciar, sempre e novamente, do belo caminho do suave
gotejar, gota a gota, todas as lágrimas, sangue e suor, todos os
humores do ofício de criar!
Dize-me, impudente labirinto, és o curral estreito sem
saídas ou, antes de tudo, deixas de ser uma pocilga qualquer
com luminosos a ornarem a entrada dos fariseus?!
Por que o teu orgulho insuspeito?! Como tu muitos
arrogantes conheci em minha vida, muitos eram feios, outros,
apenas sinceros!
Qual pérfida tentativa sincera de vão iniciar, do
caminho que só precisa ser doloroso para tu mesma o aceitar!
Ser poeta e inquieto, é ser requintado amante ou ter aempatia do seu próprio vagar?!
Vagar vagarosamente por entre o ócio tão jovem e
pueril quanto qualquer pedido de desculpas!
Errar pelas estradas de cimento, brutas e modernas,
com a altivez de um peripatético, suave e antiga!
És a filha caprichosa da língua alheia que a repudia
como órfã da existência ou serás a mãe eterna que desde o
tempo da Grécia segue os meus devaneios com furor e
insistência ?!
Dize-me, querida e amaldiçoada, devo ostentar tua
bandeira no âmago do querer de teu filho ou ser o arauto
apedrejado do ventre de outra mãe, de parco idílio ?!
Que idade tens, para com argúcia e intelecto,
sentimentos e paixão, dizer, com inelutáveis argumentos, que meu belo grilhão liberta do pesado que poderia ser ?!
Ociosidade!
Vício de gastar inutilmente o tempo!
Vício de tempo a dar tempo a todos os vícios!
Vício aflito pela certeza dos pragmáticos!
Vício deformado pela regra dos mouros!
Vício amado pelo tempo possuído!
Vício louco como das palavras a magia!
Ociosidade!
Qual mãe querida que jamais perdeu seu filho por sob o
orvalho de salpicadas paixões pequenas pode ser trajada com a
maldição ?!
Não, tu és o grilhão e o labirinto, a lasciva e a
indolente, a ébria, a mais terrível e bela, de todas as chamas que sublimaram Joana D'Arc!