Movo meus dedos – bato asas!
Danço, bailo e faço as letras derramarem-se qual chuva de estrelas!
Sinto o meu ser abrigando o universo inteiro – sou do tamanho de todo e qualquer possível, sou assim: sendo apenas eu mesmo!
Do tamanho do querer e do sofrer, do tamanho de todo e qualquer ser!
De todo o mundo, padecendo, em todo gemido, em cada sorriso, amando e voando, sem destino – Sim! Voar é preciso!
Movo meus dedos – e sou, aqui dentro, qual qualquer um outro que aí fora se sinta – mas, sou eu, aí-aqui-dentro-ainda!
Movo meus dedos – e estremeço, e choro e agradeço! – Oh, mas por que foi que, aqui dentro, estou?! Por que eu que, de tantas melodias, padeço, ouvindo-as e sentindo-as, qual as penas, das asas dos pássaros que se movem, aí fora, pelo vento que venta daqui de dentro de mim mesmo, soprado por meus dedos?!
Sim, movo meus dedos – mas, por quê?! Por que assim eu que, aqui dentro de mim, sinto tanto sentimento, eu que tanto sinto, neste grande esplendor deste simples e singelo momento?
Eu, aqui dentro, em silêncio,e a vida tão antiga a dizer-me – Tu, aí dentro, movendo teus dedos – Ah! Obrigado! Muito obrigado por me dares ouvidos, pelo abrigo, pelo vento que, tão decididamente, e tão dedicadamente sopras de teus dedos!
Oh, mas por que eu, tão ali-aqui-dentro-ainda, parecendo estar já lá fora, distante de mim mesmo, arquejando, sorrindo, sofrendo qual penas de asas, de pássaros que, de meus dedos, partem, altivos e céleres, sem direção, sonhando e buscando firmamentos?!
Por quê?! Por que eu, assim, aqui-já-tão-dentro-de-mim, sinto-me ainda como se fora o universo inteiro, tão sozinho que, como a um deus, eu que me sinto?!
Mas, por que eu, aqui dentro de mim, apenas sorrio, assim, tão senhor de meus dedos?!
Oh! Mas por que, por que mesmo?!

 

MARCELO GOMES JORGE FERES
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