Bolsos do desespero

 
 
 
BOLSOS DO DESESPERO
Nascemos,
Logo nos vestem roupas,
Mais tarde com bolsos,
De carapins passamos a usar sapatos,
E até botas!
De bolsos para lenços
Passamos para notas
E a viver tensos!
Deixamos de ser meninos
E passamos a cretinos,
A querer contas no banco
E de acções mais outro tanto!
 
Mesmo os poetas,
Que cantam o amor,
A lua, o céu e as estrelinhas,
Não desdenham que seus versos
Lhes dêem notinhas!
 
Os bolsos,
Que na roupa estão,
Com eles temos de viver,
Dão-nos a preocupação
De os querermos encher!
Com boas accões ou más?
Depende das notícias do vento,
Das novas que ele traz!
 
Ponto fulcral,
Dos nossos anseios,
É que nossos bolsos,
Às roupas cosidos ou colados,
Andem sempre cheios,
Senão, andamos nós
Vazios d’esperança,
Desesperados!
 
Resta-nos o conforto
De termos nascidos nus,
Sem nada,
Sem bolsos para notas,
E embora morramos vestidos,
Com bolsos à roupa cosidos,
Sabemos que os levamos vazios,
Porque, mesmo cheios
não mais abrem portas!
......................xxxxxxxxxx.................

Silvino Taveira Machado Figueiredo
© Todos os direitos reservados