Contradições do Bandoneon

Mundo feito de começos e fins
Em meios que se fundem
na plena agonia do viver.
Começa-se a vida para se encerrar na morte,
começa-se o luar, depois do escaldar daquele
que vem do horizonte.
 
A frase enseja o prelúdio do ponto final,
as vírgulas interrompem orações subordinadas,
e os mimos de criança se acabam com as fadas,
tudo porque decidiram nascer num mundo de contradições
e desfigurações
 
Mas o existir pede carências e a tristeza
faz sentir na hora da partida,
o coração que antes palpitava,
outrora se partia.
Vida pede morte
 
Tudo que se diz, espera pela própria sorte,
assim como a rosa dá lugar ao fruto,
o amor nunca almeja se tornar moribundo,
e as estrelas morrem na transformação
de um novo mundo
 
Mas quando pararam as partituras,
o tango se desarranjou,
a flor não desabrochou,
o inverno não gelou,
 
E agora o bandoneon não chora,
não se despede do pai amado,
não encanta as veredas argentinas,
os sapatos perderam a sola...
 
Não existe o tango e bandoneon
depois do réquiem para
Astor Piazzola...
 
 

renan ricardo
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