O silêncio que fere é aquele que não sabe cessar de esbravejar absurdos,
Confidenciar-lhe de inutilidades.
O silêncio que fere é tal qual tragédias gregas, sem interrupções.
O silêncio que arde é aquele que sobrevêm às palavras mais maravilhosas.
O silêncio que fere é tal qual declamações Shakespearianas.
O meu mundo é confeccionado de um silêncio inestimável,
Tais quais as futuras aquarelas de meus filhos.
Às vezes eu tenho a vontade de silenciar tudo, de uma vez por todas.
Mas a esperança sobrepõe-se a toda essa descrença.
Eu ignoro arrependimentos. Mas emudeço inexplicavelmente diante de umas abusivas saudades incontroláveis.
Tudo o que eu vejo, ouço ou sinto me dói.
A minha dor se dá por sentir-me.
Por saber-me aquém respostas.
A minha vida é indiscutivelmente bela.
A minha alegria é doentia e a minha mágoa é salubre.
Vez ou outra eu posso ser alegre o bastante sem dor,
Mas nunca, eu, na minha dor, permito-me carnavais.
A dor é sagrada. Casta. Não aceita matrimônios.
Mas se compromete indubitavelmente a causar-nos essa indiferença ou essa semelhança com o azul morno e secreto desse céu.
Azul inconquistável, inexprimível, indizível, solitário, triste, fúnebre, adornado de felicidades imóveis, mudas, palacianas.

24/05/06

Ana Carolina Barbosa
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