" Oh, isto é dor, isto é agonia"

 " Oh, isto é dor, isto é agonia"

“(...). Agora irei à biblioteca tirar algum livro para ler e olhar, e ler de novo e olhar. Eis aqui um poema sobre uma sebe. Passarei ao longo dela e colherei flores, a briônia verde e o pilriteiro cor de luar, rosas selvagens e a serpentária trepadeira. Vou apertá-las na mão e espalhá-las na superfície brilhosa da escrivaninha. Sentarei à margem tremulante do rio e contemplarei os nenúfares, largos e luminosos, que iluminam o carvalho que pende sobre a sebe com raios de luar de sua própria e diluída luz. Vou colher flores; vou juntar flores numa guirlanda e amarrá-las e presenteá-las – Oh! a quem? Há alguma obstrução do meu ser; uma corrente profunda faz pressão contra algum obstáculo; ela empurra; ela puxa, algum nó no centro opõe resistência. Oh, isto é dor, isto é agonia. Desfaleço, definho (...). Agora a corrente jorra num fluxo profundo, fertilizando, abrindo o fechado. A quem devo dar tudo o que flui através de mim, de meu cálido, poroso corpo? Juntarei minhas flores e as presentearei– Oh! a quem?”


Virginia Woolf- AS ONDAS

Eloisa Alves
© Todos os direitos reservados