Ficou no balcão da padaria
Uma boa parte da minha vida
Em mais de oitenta poesias
Que perdi.
Junto aos pães de queijo
Esteve a minha ambrosia
E alguém a roubou.
Devolva-me o meu grito,
A minha voz e meus sorrisos.
Não me deixe triste para morrer...
A arte é de todos, e só ela amaina
Meu coração.
Tem suvenires melhores na feira
Garota do balcão.
O caderno de um poeta
Não se pode perder,
Pois em meio aos desenhos
Está eu e você.
Eu estou no meio das letras
Para te assombrar...
Num filme, amanhã, você vai ver
O meu olhar.
Eu te desprezo,
Mil vezes você não é a minha fã.
Misantropia agora é minha
Filosofia de vida
E meu quarto é meu lar.
Você acabou comigo!
Eu não quero mais vinhos baratos
De padaria,
Onde trabalha gente indecente,
Onde não tem achados e perdidos,
Onde não escutam o meu grito,
Onde só vendem pão.
Não venha amanhã tentar se aproximar
De mim,
Tenho aversão
À garota do balcão
Que não merece a minha alvíssara,
Só merece uma adaga no coração
E que eu despeje no seu cadáver
O vinho podre que me vendeu.
Poeta não é bom, é marginal,
Vão me dizer...
Daquele caderno não podem usar nada,
Aquele lá sou eu.
Lá tenho minha casa,
Minha noiva,
E o meu céu
E o meu néctar no alvéolo
Dos favos de mel.
Sentei-me no meio-fio e bebi pinga
Às duas da manhã,
Pensei em fugir,
Tornar-me um poeta underground:
Minhoca em fuga para o centro da terra.
Se não existem damas neste mundo,
Eu não serei bonzinho.
Vou fechar a porta do carro
Na sua mão.
A espada que você enfiou
No meu coração é muito fina
E não me ensinou nada.
Se sonhar depois de ler os meus poemas
Que seria para mim uma preciosa
Namorada,
Se engana,
Para mim você é só uma ladra.
Vou falar de você no meu show
Aos 53 anos de idade.
Vai ser um lindo show encima do
Prédio mais alto da cidade.
Espero que você já tenha morrido
E não tenha chance de assistir.
Perdoe a minha alocução
Um pouco revoltada.
É que roubando meu caderno,
Você tirou a ponte da minha estrada.
Meu discurso não é ambíguo,
É um tiro no peito.
Não sei fazer carinhos,
Mas para torturar tenho mil jeitos.
Você não sabe com quem mexeu,
Ainda estou pensando
Em mastigar o amendoim
Que você tem no lugar de cérebro.
Que tipo de mulher é você, que leva
Meu caderno ao peito
Mostrando a suas amigas,
Enquanto eu estou chorando?
Não sabe que o poeta sangra
Para criar,
Que asas nascem nas minhas costas
Todos os dias,
Não sabe que para cada poema desses
Eu fui fuzilado, desterrado, amado,
Cortado, crucificado, empanado
E sorri?
Alguém tem que gritar no seu ouvido
A importância do meu relicário,
Já fui ao céu três vezes...
Eu tenho a voz de deus
E a letra de Moisés nos dez mandamentos.
Não queira ser castigada...
Devolvendo eu te torno uma fada.
Você tem o pano e o balde,
Boa escolha seria limpar essa cagada.