Sem poesia

 
 
Quando acabar a emoção,
preponderar a razão,
traçarei a minha trilha.
Nenhum envolvimento que arrebate,
nem a luz que da estrela brilha,
nem tudo que se interpõe,
de repente, no caminho...
E nos propõe um embate,
pressiona a indagar:
Fico ou me deixo levar?
 
Nada me fará parar!
 
Quando não houver mais emoção
e puder contar com a razão
recomeçarei a vida.
Direi não ao coração,
às armadilhas sutis,
artimanhas febris
forjadas pelo destino.
Às oferendas do mundo,
às cores, dores, flores, amores.
Seguirei em frente, usarei o tino.
Ilesa a sentimentos profundos.
 
Mas como projetar os sonhos?
Sem alvoreceres, como sonhar?
Desprezar entardeceres do outono?
Sem arrebóis volveriam os girassóis?
 Os amanheceres, a chance de recomeçar?
Pode o poeta viver sem oferendas,
belezas que trazem o dia,
as dores, os amores,
as flores, os sentimentos?
 
Seria negar a todo momento
o dom divino de poetizar...
Morrer a cada dia,
sufocar o que precisa extravasar .
Trancar para si a poesia
e omisso, se calar.
Deixar à deriva os versos,
a rima sozinha a bailar.
Matar o que alivia,
se suicidar!
 
_Carmen Lúcia_