As luzes do Sena são o impressionismo. Seria impossível pintá-las com verdade em telas realistas. Porque sua realidade Paris é uma impressão.
Mesmo fotografado o Sena e todas as luzes da cidade luz me conduzem a um lugar que a razão não acessa, onde o consciente se esvaece.
Natureza polêmica de um povo que parece assistir a vida desfilar em suas calçadas das mesas e vitrines sem vidro de suas brasseries. Revoltas e motivos numa cidade em que o tempo para e se perde num copo de vinho rosê.
Se na Cidade Luz o que vale é o momento eternizado nas lentes de Bresson e nas pinceladas de Monet, Manet e Van Gogh, na Cidade eterna ele passa. Roma seu tempo é um jogo intenso e efêmero. Em ti a paixão fulminante defender que um lado pode defender no dia seguinte o outro com mesma convicção. Inconstante como fizeste nas duas grandes guerras que abalaram o mundo. A curiosidade de teus habitantes indiscretos e acolhedores, intensos e volúveis. Me fazes sentir provinciana quando cercada de muros anteriores a cristo e todas suas chiesas que o enaltecem eu passo por sussurros e cumprimentos de senhoras e senhores. Motociletas que parecem não te ver e homens que parecem ver mais do que se mostra ali.
O mesmo orgulho de um e de outro e maneiras tão singulares de demonstrá-lo.Se o italiano engole o mundo e em um abraço te convida a engolir o mundo também. Ele grita e avisa a todos o quanto você é especial, o francês silencia e observa. Não invade teu espaço nem te coloca dentro do dele. Seu vinho não é tão vermelho, ele fala baixo e onvida você a se aproximar mais e mais. E como se ele quisese que só você escutasse, mais e mais perto e quando você vê já esta fora de si e dentro daquela luz refletida no Sena e em suas margens que cantam.
Eu joguei em Roma apaixonadamente. Depois na Cidade da Garoa racionalizei tudo aquilo. Na selva de pedras tudo se tornou verbo. Na poesia concreta de suas esquinas, São Paulo, entendi a intensidade de tudo aquilo.
Então te conheci Paris, eu me abri. Não me arrisquei, mas pulei certa da consequência e de olhos abertos. Em ti me permiti ser só na multidão. Sem dramatizar ‘romanamente’ um coração partido, sem exteriorizar uma lágrima. Calei engolida pelo silêncio e atmosfera de ilusão de suas pontes oníricas.
Para depois, em casa, te encarar frente a frente, São Paulo, e ver o meu rosto. Lágrimas que caiam junto a garoa que molhava o vidro do carro e distorcia lanternas e semáforos refletidos na água. Tudo, enquanto eu me perdia na multidão de um trânsito de horas e me encontrava na solidão sem fim do meu carro em silêncio.
São Paulo
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