O canário que cantava
No galho da goiabeira
O gato preto comeu;
Atirei o pau no gato
E o maldito correu.
Desatei a chorar
Enquanto isso a vizinha
Falou em me processar,
Que azar...
Eu quis voar aos céus
Me esparramei no chão,
Não apareceu
Nenhuma fada de condão.
E nenhum cavaleiro
Me estendeu sua mão...
Com a cabeça quebrada
Levei algumas palmadas
Além de uma dor medonha.
Resolvi ir à Espanha;
Voltei desapontada
E amarguei meu dissabor,
Porque nenhum jardineiro
Me ofereceu uma flor...
Cansada,
Adormeci num banco de praça
Que desgraça!
Nenhum sapo-príncipe,
Nenhum beijo de amor,
Quanto horror!
Numa última jogada
Pensei em ser Rapunzel
De lindos olhos de mel,
De sorriso de criança
(Meu cabelo é minha herança).
Com o cabelo pichaim
Qual seria meu fim?
Serei eu o patinho feio?
Será o mundo mau assim?
Qual meu pecado, enfim?
O mundo é mesmo cruel,
Por que essa taça de fel?
Dessa forma eu me proponho
A esquecer todos os sonhos...
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