Já vaguei por ínvios vales,
como um doudo passarinho
a fugir de tantos males,
sempre em busca de meu ninho!
Respirei mais de mil ares
e habitei as ventanias...
não pilhei os patamares
que sonhei viver meus dias.
Meu Deus! Triste e solitário
embucei-me em tanto engano;
só encontrei rente ao calvário
a paixão de um soberano.
Já segui turbas bacantes
e sorri com os mendaces,
e por infindos instantes
vi a dor correr nas faces.
Fui escravo desses vinhos,
quando a lua me velava;
sobre uma relva de espinhos
sem vigor eu caminhava.
Meu Deus, quão foram atrozes
que eu travei aquelas lutas
de não mais amar as vozes
das amáveis prostitutas!
Calvaguei por longas rotas
sem parar feliz ao certo
nas paragens ignotas,
pois tudo me foi deserto.
Os remorsos me pesaram
nos momentos pavorosos,
e acres risos só roçaram
os meus lábios sequiosos.
Já galguei gigantes montes,
e este sol num vão repente
vi rolar nos horizontes,
qual na face um pranto ardente!
Moribundo nas calçadas
me nutriu sangue guerreiro;
no fulgor das vis espadas
apagou-se o mundo inteiro.
Em sofrer tamanho enfado,
eu vivi, morri, lutei...
Mas, só tive algum agrado
quando um dia te encontrei!
Inda assim, nunca pudera
e não sei por que a razão,
povoar na primavera
teu fagueiro coração!
POEMA ESCRITO EM 13/11/2006
PARA O LIVRO NÃO-PUBLICADO "EM NOME DAS ETERNAS JURAS"
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