Esta noite num palco ilustre eu sinto

deslizá-lo a sombra daquela atriz

e, no seu drama de amores em flux,

verá chorando quem já foi feliz.

 

Quando ela entrou com seu silêncio altivo

a flutuar no vermelho tapiz,

discreta como a lua nebulosa,

que esconde o brilho em passos sutis.

 

Alguém que tinha no peito inocente

ruídos mestos de temores vis,

viu-se descrente num porvir horrendo,

su`alma rota e seu cabelo gris.

 

Mesmo sofrendo, libertar na fala

um doce verso que outra noite fiz,

bem junto dela qual um pulcro vate,

quando ela entrou tão bela, como quis!

 

Em seu olhar talvez fosse o desdém,

uma criança que empina o nariz;

e seu talento que a todos deslumbra,

fosse de sua imagem um verniz.

 

Passou tão linda rente os meus suspiros,

linda e singela, como a flor de lis;

em seus encalços uma luz formosa

feria as vistas com saltos hostis.

 

O seu vestido negro era mais célebre

que a santidade da sobrepeliz;

um tíbio riso surgia nos lábios

fartos e belos, como dous rubis.

 

Mas, preferia na campestre aurora

que seu vestido estivesse em matiz

a exibir os raios da natura,

e essa pureza que o sonhar prediz.

 

Que não viesse resplendente em jóias,

mas que seus gestos fossem mais gentis;

que me falasse com supremo afago,

como fazia aos animais Assis!

 

Pois, nesta noite quando a vi passar,

dela lembrei nos tempos infantis,

quando não tinha esse fulgor na face...

tantos amantes como meretriz.

 

Ao vê-la vasta neste palco ilustre,

lembro que ouvia seus sonhos anis;

que ela brincava nas alfombras tenras

e via fadas, duendes, sacis!

 

Ah! Sei que agora em seu viver esquivo,

minhas ternuras ela só maldiz!

Quero chorar a cada estreia sua,

a cada espera de um final feliz!

 

POEMA ESCRITO EM 07/03/2009

PARA O LIVRO NÃO-PUBLICADO "EM NOME DAS ETERNAS JURAS"

 

Alexandre Campanhola
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