O Não Pertencimento

 
 Não sou pertencente a lugar nenhum, cidade alguma
cidadão oco, vazio. Copo trincado
em fim de orgia, sem corpo.
Fluido, gás helio, balão incolor
vago além da atmosfera.
Divirto platéias, palhaço e louco
envergonho a família, a classe, o povo
a humanidade inteira.
Enlouqueço a Tradicional Família Mineira
com meu sotaque carregado de uais,
pensamentos singelos, mas elegantes,
um tigre a desfilar seu garbo
entre búfalos e elefantes.
Não me querem assim, não me querem vistoso
pavão, garanhão marchador. Assim não me querem
os pais, os avós, professores, o pároco, o prefeito.
também a primeira namorada, o boi que rumina ao largo
o coelho a espiar dum buraco do chão, todos
me querem simples, um inseto, uma tábua
um alfinete ou um dedal, inofensivo, insignificante .
Deslocado, anacrônico, insípido.
 
Mas qual, se não me permito a doma,a  arreata,
tampouco a ordenha, cintos a estrangular libidos.
Sou livre, sou leve, sou gás...
 

 

3º Lugar no XVII Concurso Internacional de Poesias, Contos e Crônicas da Associação Artística, Literária e Multiprofissional "A Palavra do Século XXI" (ALPAS 21) - Cruz Alta (RS) - maio/2012.

Betim (MG)