Enquanto a escuridão separa
o sol e a madrugada,
a psicodelia se revela, envolve meu ser
num movimento de sombras e sons.
Enquanto sons paralelos ecoam,
meu corpo se contorce.
Arte Natural e m'alma se transporta,
voa
e faz de meu corpo um fantoche,
um espantalho das sombras,
uma extensão de caiporismo*.
Nada parece fazer sentido
e sentido não há necessidade ter.
Facto sobrenatural:
meu corpo acompanhando minha mente.
 
Meus olhos jamais apagarão
os caminhos que fiz aquela noite,
as luzes que me guiaram,
a energia extraordinária que me tirou do chão,
a tinta vermelha em pó que subia e me fez levitar
nem o verde se transformando
em argila da insignificancia humana,
sob meus pés.
E aos sons se findando,
meu corpo foi repousando,
minha alma voltou
como um raio.
Gritos de agonia massacravam-na
e por fim um venefício*,
uma imagem,
um sorriso e
um abraço
me puxaram de volta.
 
E tudo valeu a pena.
 
 
CAIPORISMO = Urucubaca.
VENEFÍCIO = Envenenamento acompanhado de sortilégio.

Débora Garrido Lima
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