"Sombra do nosso sonho ousado e vão!
De infinitas imagens irradias
E na sombra de tua projeção
Quanto mais cresces, mais te distancias."
Raul de Lêoni.
A lua tapou o sol com um esplendor absíntico.
Bêbado do luar, ansioso por escuridão e perdido,
Sinto-me estranho: Como se estivesse alienado e vencido
Por forças inimagináveis, ferozes e tonteio num mundo labiríntico...
Uivos sangrentos de lobos esfaimados da luxúria
Ecoam em minh'alma atormentando e clamando insanidade.
Tenho súbitos orgasmos mentais, depois entristeço, nem bem e nem maldade,
Mas um misto de euforia e risos, de cólera e juramentos de fúria.
Vou caminhando no ermo do cotidiano, incréu, sem chave
Para abrir a porta que me levará até a antiga luz.
Sou enganado pelo beijo que inebria a razão, que a seduz
Pondo-a em uma espécie de coma... De um estado grave...
Às vezes dentro em mim ruge uma besta, um enorme tigre
E sinto vontade de imprecar todas as retidas mágoas.
Não o faço. Acabo represando tudo como se fossem violentas águas
E impeço, desta forma, que toda a negatividade emigre.
Meu espírito enegreceu, foi envenenado, uma psíquica cicuta
O corrompeu tirando tudo o que nele era puro.
Hoje, enxergo tudo com desconfiança, um véu escuro
Paira em meu olhar e existe internamente uma constante disputa.
Símbolos de mentiras que vivi. Diante de falsas verdades
E, mirabolantes e cruéis mentiras verdadeiras,
Para o sentimento que despertou em mim não haverá fronteiras...
(Novamente, enganei-me diante de falsas majestades...).
O que em mim é o que era após tanto desgosto? Após este eclipse?
Eu escrevi em páginas brancas o supremo e diáfano conto da ilusão.
Rezei missas calado, com a luz e a sombra entrei em comunhão
À procura de ti e o que encontrei foi o meu Apocalipse...
Anjo. Anjo negro que rege meu destino na região perdida
Acuda-me! Porque estou me perdendo para além do controle...!
Veio a escuridão do luar tapar meu sol e afundou meu autocontrole...
E era este sol, em verdade, toda a minha vida...
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